O que falta aos caminhos de Fátima?

maar3amt

Administrator
Staff member
Boa tarde,

Temos assistido a um crescimento exponencial da popularidade dos Caminhos Portugueses de Santiago. Na sua opinião, quais poderão ser as razões para que os Caminhos de Fátima ainda não acompanhem esta mesma tendência?

Agradecemos desde já comentários construtivos que possam contribuir para o desenvolvimento e valorização destes trajetos.

Boas caminhadas!
 

To Plaza

New member
Boa tarde maar3amt,
Na minha opinião, o primeiro passo seria retirar o caminho das principais estradas como acontece todos os anos ver o IC2 repleto de gente e a caminhar em aglomerados.
2º - deveria existir um trabalho feito a partir das paróquias, no sentido de divulgar e dar a conhecer os caminhos para Fátima, sendo estes referenciados por estradas secundárias ou até mesmo aproveitar os caminhos de Santiago a percorrer em sentido inverso.
3º - retirar os apoios (quando existem!) dados pela Cruz Vermelha e/ou outras associações das estradas principais, obrigando os peregrinos e irem pelo Caminho assinalado.
4º - tentar alterar a cultura do "comer kms" quando se vai a Fátima. É usual ouvir quem vai para Fátima dizer que fazem 50 kms/dia.

Espero ter contribuido!
 

Luciano Frade

New member
Boas .
O que eu acho no meu ver o que ainda falta em muitos lados e Albergues e uma credencial (penso que ja exista ) mas deveria dar direito a um diploma ou algo parecido .
E tambem rigor nas marcações fiz recentemente o Caminho de Nazare e notei muita falta de marcações
 

maar3amt

Administrator
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Boa tarde maar3amt,
Na minha opinião, o primeiro passo seria retirar o caminho das principais estradas como acontece todos os anos ver o IC2 repleto de gente e a caminhar em aglomerados.
2º - deveria existir um trabalho feito a partir das paróquias, no sentido de divulgar e dar a conhecer os caminhos para Fátima, sendo estes referenciados por estradas secundárias ou até mesmo aproveitar os caminhos de Santiago a percorrer em sentido inverso.
3º - retirar os apoios (quando existem!) dados pela Cruz Vermelha e/ou outras associações das estradas principais, obrigando os peregrinos e irem pelo Caminho assinalado.
4º - tentar alterar a cultura do "comer kms" quando se vai a Fátima. É usual ouvir quem vai para Fátima dizer que fazem 50 kms/dia.

Espero ter contribuido!
Concordo plenamente com a sua opinião.


Gostaria ainda de acrescentar que deveria ser feito um levantamento exaustivo das regiões com interesse natural, paisagístico e histórico, de modo a que os Caminhos de Fátima se valorizem mutuamente ao passarem por esses locais.

Um exemplo poderia ser a criação de um percurso entre Fátima e Astorga (ou León), onde passa o Caminho Francês e confluem diversos outros caminhos. Este traçado poderia incluir zonas de grande beleza, como o Nordeste Transmontano, os Lagos do Sabor ou o Douro Internacional. A ligação ao Caminho do Interior poderia fazer-se na zona da Régua, conduzindo os caminheiros até Viseu. A partir daí, seguir para Coimbra e depois integrar a Rota Carmelita. Este é apenas um exemplo de como ainda existe imenso potencial por explorar nos Caminhos de Fátima.

Outra proposta importante seria marcar itinerários específicos dos Caminhos de Fátima, distintos dos Caminhos de Santiago, de modo a conferir-lhes identidade e singularidade próprias.

Importa também desfazer um mito: os Caminhos de Fátima não são meramente percursos de fé tradicional. Os trilhos offroad — tal como acontece nos Caminhos de Santiago — são também caminhos espirituais, de silêncio, de interioridade e de reconexão com a natureza e connosco próprios. Quem disser o contrário é porque nunca percorreu verdadeiramente um Caminho de Fátima a sério.

Destaco ainda que este trabalho não pode ser feito apenas em escritório — é essencial conhecer o terreno. Os traçados devem evitar ao máximo as estradas asfaltadas ou com tráfego intenso, recorrendo a essas vias apenas quando não houver alternativa viável.

O sistema de cadernetas precisa igualmente de funcionar de forma eficaz. Já tentei adquirir uma caderneta dos Caminhos de Fátima através do site oficial e nunca obtive resposta, nem sequer por email. Paralelamente, seria importante haver um ponto oficial de acolhimento aos peregrinos em Fátima e, à semelhança do que acontece em Santiago, criar algo semelhante à "Compostela", como forma de reconhecimento e valorização da peregrinação.

Para finalizar, é de extrema importância que nós, portugueses, comecemos a divulgar mais os Caminhos de Fátima, a ir para o terreno e a partilhar nas redes sociais, à semelhança do que orgulhosamente fazemos com os Caminhos de Santiago.
 

Pedro Silva

New member
Boas .
O que eu acho no meu ver o que ainda falta em muitos lados e Albergues e uma credencial (penso que ja exista ) mas deveria dar direito a um diploma ou algo parecido .
E tambem rigor nas marcações fiz recentemente o Caminho de Nazare e notei muita falta de marcações
Boa tarde, está credencial já existe, e funciona como prova de peregrino, o que não dá, é certificado ou diploma. Quanto ao rigor do caminho, ele está sinalizado até Ansião como rota Carmelita, depois seguir a esquerda ou seguir á direita para penso eu rota do Centenário.Ambas bem sinalizadas, já a fiz 2 vezes sem qlq problema.
 

Pedro Silva

New member
Depois de 2 vezes feita a rota Carmelita até Ansião 3 depois até Santuário, não vejo qlq problema de orientação. O único senão,será no apoio,temos poucos cafés no percurso, obriga nos a uma gestão de líquidos mais severa, e talvez mais albergues,basta dizer que a etapa mais longa tá se de Águeda a Coimbra em 52 km ou paras em Mealhada e fazes uns 20 km. No meu caso, faço em 7 dias , se for pela Rota Carmelita são mais 5 dias. Será mesmo necessário mais albergues mais apoio para descansar até porque, o caminho também se faz pelo monte. Se houver mais impedimento pela estradas nacionais,terá a de haver mais apoio por este caminho
 

maar3amt

Administrator
Staff member
Depois de 2 vezes feita a rota Carmelita até Ansião 3 depois até Santuário, não vejo qlq problema de orientação. O único senão,será no apoio,temos poucos cafés no percurso, obriga nos a uma gestão de líquidos mais severa, e talvez mais albergues,basta dizer que a etapa mais longa tá se de Águeda a Coimbra em 52 km ou paras em Mealhada e fazes uns 20 km. No meu caso, faço em 7 dias , se for pela Rota Carmelita são mais 5 dias. Será mesmo necessário mais albergues mais apoio para descansar até porque, o caminho também se faz pelo monte. Se houver mais impedimento pela estradas nacionais,terá a de haver mais apoio por este caminho
Ainda fiz poucos caminhos de Fátima, mas já fiz a Rota Carmelita, e, é um dos poucos que se diferencia pela positiva da generalidade.
 

Pedro Silva

New member
Ainda fiz poucos caminhos de Fátima, mas já fiz a Rota Carmelita, e, é um dos poucos que se diferencia pela positiva da generalidade.
Este ano, foi a minha 11° peregrinação, 9 por estrada, e 2 pelos caminhos, coisas completamente diferentes, os caminhos são uma mais valia, a rota Carmelita pelo que sei, nada tem a ver com Fátima unicamente uma ligação Lisboa - Santiago, contudo, dizem ser muito bonita está rota a Carmelita
 

maar3amt

Administrator
Staff member
Este ano, foi a minha 11° peregrinação, 9 por estrada, e 2 pelos caminhos, coisas completamente diferentes, os caminhos são uma mais valia, a rota Carmelita pelo que sei, nada tem a ver com Fátima unicamente uma ligação Lisboa - Santiago, contudo, dizem ser muito bonita está rota a Carmelita
Eu já fiz... A Rota Carmelita torna-se um caminho interessante, pelo facto de ser maioritariamente fora de estrada, ao contrário de outros caminhos que seguem em direção a Fátima.
 

Elsa

New member
Além do que já foi dito e sublinho a falta de alojamento em alguns locais e a necessidade de sinalizar os locais de interesse seja natural ou patrimonio....mas creio que é necessario investir na divulgação.
Porque será que, por exemplo que a "febre" do caminho dos pescadores chegou tão forte aos italianos e não há quase interesse pelos caminhos de Fátima?
 
Olá, já fiz duas vezes o caminho centenário Porto -Fátima. 2023, 2024. Fiz com grupos de bombeiros . Só encontrei peregrinos no sentido inverso para S.Tiago de Compostela. Gostaria que o caminho tivesse mais apoio, melhor sinalização, albergues e sugestão de etapas, fontes/Pontos de água, Em Espanha temos a cédula em Portugal também mas de nada serve porque no final não passam o certificado/Diploma ao contrário de Espanha (Compostela). Já fiz por duas vezes o Caminho de S.Tiago, tem mais espaços verdes e mais apoio, e tenciono brevemente fazer o caminho Francês .😔
Boa tarde,

Temos assistido a um crescimento exponencial da popularidade dos Caminhos Portugueses de Santiago. Na sua opinião, quais poderão ser as razões para que os Caminhos de Fátima ainda não acompanhem esta mesma tendência?

Agradecemos desde já comentários construtivos que possam contribuir para o desenvolvimento e valorização destes trajetos.
 

maar3amt

Administrator
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Além do que já foi dito e sublinho a falta de alojamento em alguns locais e a necessidade de sinalizar os locais de interesse seja natural ou patrimonio....mas creio que é necessario investir na divulgação.
Porque será que, por exemplo que a "febre" do caminho dos pescadores chegou tão forte aos italianos e não há quase interesse pelos caminhos de Fátima?
A Rota dos Pescadores tem a vantagem de ser paisagisticamente muito forte, beneficiando ainda do facto de terminar no Algarve — uma região com grande afluência de turistas internacionais e onde existe uma aposta consolidada na promoção eficiente do turismo.

No caso dos Caminhos de Fátima, é fundamental apostar em estratégias mais sólidas e bem estruturadas. Os traçados devem privilegiar zonas de elevado interesse paisagístico, histórico, religioso e cultural, garantindo uma experiência rica e diferenciadora para os peregrinos.

A celebração de protocolos com a Galiza seria também extremamente positiva, especialmente no que toca à interligação com caminhos estratégicos de Santiago, como o Caminho Francês. Ainda assim, estes itinerários devem manter a sua identidade própria, sendo exclusivos dos Caminhos de Fátima, para garantir uma clara diferenciação em relação aos de Santiago.
 

Filipe Silva

New member
Um tema interessante que me fez registar no vosso site, parabéns ... Embora já vos siga à muito pelas redes sociais ;)

Desde +/- 2010 que faço apoio de carro a um peregrino (sogro) que vai à cerca de 20 anos a Fátima a pé todos os anos, inicialmente em grupo e posteriormente passou a fazer-lo sozinho. Fez-lo sempre pela estrada nacional e na altura do 13 de Maio, o que me intrigava pela negativa, tanto pelos vários perigos inerentes à via escolhida, como ao sacrificio generalizado que fui assistindo nos vários grupos organizados com que me ia cruzando no caminho ao longo desses anos. O que contribuiu para nunca ter interesse em fazer este caminho a pé.

Em 2017 fizemos o nosso primeiro caminho para Santiago (V. N. de Famalicão - Rates - ... - Santiago), nesse ano surge a primeira curiosidade sobre o caminho de Fátima e o seu paralelismo com o caminho de Santigo. Dei por mim a questionar o mesmo que o maar3amt.
Pesquisas e mais pesquisas, acabei por encontrar um grupo de facebook que ainda encontram online, mas já sem atividade desde 2021, "Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima" e através do trabalho deles de mapeamento e marcação no terreno o primeiro mapa fora da estrada nacional. Infelizmente o grupo caiu tanto quanto sei devido a interesses economicos do Turismo de Portugal, que decidiu investir nos Caminhos de Fatima e riscar em cima de trabalhos já feitos, remarcando um novo caminho que se desvia em alguns momentos do trilho inicial por interesses turisticos e economicos (o tipico). Mas são outras histórias que não interessam para aqui.

O que interessa é que em 2018 arrancamos pela primeira vez a pé para Fátima com esse mapa que trilhava o inverso do caminho de Santiago (chamaram-nos malucos por fazer mais uma batelada de kms comparado com a estrada nacional). Saimos com um GPS do carro que eu tinha martelado para colocar trilhos em caso de nos perdermos, à procura de setas azuis ou na falta delas olhavamos para trás em busca das setas amarelas e alguns possiveis sitios de pernoita.
Saindo de VNFamalicão, o primeiro albergue só no porto, mais de 40kms no primeiro dia, foi o primeiro entrave e não iamos preparados para subir tanto monte na Trofa, chegamos tarde e exaustos. Segundo dia até São João da Madeira, sabiamos que podiamos ficar no lar da Santa Casa e como não apareceu mais nada pelo caminho foi lá que ficamos. Terceiro dia iamos dormir a um albergue na Mealhada, mas rebentamos em Agueda. Defenitivamente por causa das pernoitas as etapas ficaram muito longas e foi o nosso principal erro.
Em 2019 depois de mais um ano a estudar, voltamos a Agueda e já com etapas mais ponderadas retomamos o mesmo caminho, ainda assim, em Coimbra, Ansião e especialmente Caxarias foi complicado encontrar local para pernoitar. Percebemos no entanto que de Coimbra para baixo, nos começavamos a cruzar com peregrinos de Santiago que tinham iniciado em Lisboa e faziam paragem em Fátima, todos metiam conversa connosco para saber se iamos para Fatima e faziam questão de dizer que vinham de lá. Estranhamente em Caxarias onde segundo indicações os bombeiros recebiam peregrinos, foi nos negado apoio e acabamos no centro da vila à procura de dormida, tendo ido parar à Pensão Manalvo, uma casa que na altura parecida saida de um filme da decada de 70 ou 80 e que rapidamente percebemos que estava cheia de peregrinos franceses, porque num dos seus guias fazia estranhamente referencia aquele sitio. Dia seguinte chegamos a Fátima, fiquei convencido que aquele sim era o caminho certo.

2020 e 2021 voltei a fazer apoio em estrada, sempre a tentar convencer o meu sogro a sair da estrada nacional, todos os anos apanhavamos um susto diferente, por sorte nunca tivemos nenhum azar.
Em 2022 finalmente aceita o meu desafio (em parte pelos stresses do covid), embora reticente por serem mais kms e com a condição de eu o acompanhar a pé. Teria de ser no maximo 6 dias (ele costuma fazer pela estrada uma media de 4/5 dias e não queria fazer muito mais que isso)... Amarrei o maps e o google e rapidamente fiquei desiludido com a queda dos Amigos do Caminho que em muito me orientaram da primeira vez. Felizmente ainda tinha o mapa deles e encontrei depois um ultimo que fizeram a sobreporem ao do turismo de portugal, onde alertavam para zonas onde se saía do caminho de santiago sem motivo. Marquei os sitios onde tinha dormido em 2018/19 e procurei novos sitios de forma a conseguir etapas de cerca de 30kms, para surpresa minha encontrei sitios de acolhimento paroquial e os albergues aumentaram (ou a publicidade online com o crescimento das plataformas de divulgação) e consegui assim planear etapas mais comedidas.
Arrancamos para chegar lá no 12 de Maio de 2022, até ao Porto indo pelo caminho de santiago via Trofa foi um sossego, chegamos com marcação no albuergue e o sossego de 2018 (temos o primeiro contato com as credenciais para Fatima, mas nao adquirimos nesse ano porque eu levava a minha da ida em 2017 a Santiago para carimbar o caminho de Fatima). Saindo do Porto começamos a encontrar grupos organizados sempre que cruzavamos a estrada nacional e começaram os stresses, quanto mais desciamos mais impossivel de arranjar alojamento era e nem marcações valia apena tentar fazer, a resposta era sempre a mesma "está tudo cheio".
Os grupos da estrada nacional recorriam a tudo o que é alojamento (aliás é já fonte de rendimento de algumas associações nessa altura dar acolhimento a grupos), com marcações antecipadas, foi um problema que nos obrigou algumas vezes a fazer kms extra até zonas de apoio na estrada nacional para dormir nos mesmos sitios que eles e no dia seguinte voltar para trás para retomar o caminho.
Jurei não voltar a fazer o caminho para chegar nos dias 12/13 de Maio. Passei o caminho à procura de alojamentos, residenciais, albergues (publicos e privados) o que me permitiu aumentar o arquivo que ja tinha. No entanto por supresa minha, o meu sogro depois de anos e anos pela estrada nacional e bastante reticente em mudar o caminho, termina a dizer que depois da experiencia não sabe se volta à estrada nacional.

2023 e já com algum conhecimento de causa, um trilho definido, locais de pernoita praticamente decididos, desafio mais 3 pessoas que aceitam e arrancamos duas semanas depois do 13 de maio. Um grupo de 5 pessoas, 4 credenciais compradas online facilmente e outra no albergue do porto, 7 dias e finalmente conseguimos que o ambiente fosse semelhante ao que nos apaixonou no caminho de Santiago em 2017. Correu muito bem, curiosamente a cada ano que passa cruzamos com mais gente que vai para Santiago passando em Fátima e nos locais de pernoita a informação é que cada vez mais gente tem ido para Fátima também nestes caminhos (o que nem sempre se reflete em boas historias).

2024 novamente apenas com o meu sogro, decidimos arrancar quando toda a gente estava a chegar... Arrancamos no dia 11 de Maio, desta vez reduzimos novaente para 6 dias, aumentando a quilometragem diaria nas etapas mais urbanas e monotonas. Literalmente até Águeda, sendo que daqui para a frente, em especial a partir de Coimbra o caminho tem um maior interesse, além de saber sempre bem reduzir a quilometragem dia após dia. Demonstrou-se uma boa escolha, conhecemos novos albergues e novas pessoas, apanhamos mais peregrinos estrangeiros de Santiago a vir das celebrações do13 de Maio e obviamente isso causava curiosidade neles sobre o motivo de irmos fora das "festividades" o que proporcionou também mais conversas. As pernoitas com a passagem dos anos vai ficando mais facilitada, porque já começamos a conhecer os donos dos albergues, o que facilita às vezes até um agendamento informal.
Regressamos a casa tão motivados que umas semanas depois o mesmo grupo arrancou para Santiago, nos pela segunda vez e os restantes pela primeira :)

Este ano vamos experimentar as celebrações do 13 de Outubro (celebração da ultima aparição), a ver se os albergues não estão tão completos e para tentar fugir ao calor tipico de Maio e mudar um pouco a paisagem para cores de outono, vamos ver o que o caminho nos reserva.

Isto tudo para explicar no meu ponto de vista a razão principal para ambos os caminhos não seguirem para já a mesma tendência e dúvido que venham a seguir tão cedo.
- O motivo de um peregrino de Santiago é o caminho, a experiencia, a reflexão, a procura por algo dentro de nós, ou simplesmente a desconexção da vida que levamos. A entrada na cidade na maioria das vezes é por muitos descrita como uma "desilusão", opinião que partilho. O mesmo se percebe depois, quando se quer repetir o caminho ou fazer outros diferentes.
- O motivo de um peregrino de Fátima é a chegada ao santuário (muitas vezes o mais rapidamente possivel, porque só conseguiram uns dias de férias), o cumprir de uma promessa, o sacrificio doloroso para "pagar" um pedido de ajuda impossivel. Quase sempre só fazem uma peregrinação e não querem repetir por ter sido uma experiencia dolorosa, por isso procuram quase sempre um grupo para facilitar essa travessia, que lhe forneça dormida, cuidados e alimentação, porque não saber o que esperar e depois não quer voltar a repetir a não ser por necessidade. Quando é um peregrino "repetente" (promessas de anos ou apenas motivo religioso) tem tendencia a desvincular-se dos grupos, por causa do custo, das etapas grandes, dos objectivos horarios para ter as refeições/dormida, dr ter de andar ao ritmo das outras pessoas e principalmente porque quando falamos em grupos de 50/100/200 pessoas muitas vezes o ambiente durante o caminho é tudo menos religioso.

No ano passado sumei ainda alguns relatos menos felizes de pequenos grupos deste tipo de "peregrinos de estrada", que passaram na semana antes de nós para chegarem no 13 e que por algum motivo (publicidade na tv) decidiram fazer o caminho fora da estrada nacional. Tendo deixado por onde passaram uma marca negativa em albergues/paroquias que dão pernoita, assim como, em sitios de refeições.

Por estas experiencias penso que o fortalecimento do caminho interior para Fátima, seja ele qual for (santiago invertido, carmelitas, etc), terá sempre de se focar num publico especifico e não no mesmo das peregrinações anuais. A quantidade de pessoas, assim como, a mentalidade das mesmas, sobreposto a um caminho mais natural como o de Santiago, resultará numa sobrecarga que no meu ponto de vista será negativo pela destruição, poluição, confusão e caus que causará.
No entanto concordo sim com uma descentralização da estrada nacional 1 e criação de uma opção por estradas paralelas onde possam caminhar mais seguramente e ter os apoios que têm atualmente de instituições e veiculos. Conseguindo se calhar até uma melhor resposta e menos congestionamento de vias principais. Podendo depois sim neste caso existir uma canalização para vilas e cidades que pode ser associado a algum turismo religioso.

Quanto ao caminho interior e à sua aproximação à tendência dos caminhos de Santiago, terá de ser um publico semelhante ao dos Caminhos de Santiago, pela mentalidades, assim como, pela quantidade e distribuição de peregrinos por várias epocas do ano sem se focar apenas em Maio. Faz todo o sentido as credenciais para controlo de prenoitas, mas também para uma aquisição do comprovativo de conclusão do caminho que não existe ainda aquando da chegada a Fátima.
A existencia de um caminho principal (caminho de Santiago) onde confluem vários outros que vêm de cidades diferentes é também interessante, podendo depois a partir de Coimbra seguir ou alterar para variaveis diferentes como o caso das Carmelitas ou um outro que me falaram à uns tempos e entra pelo castelo de Ourém por exemplo.
Fará sentido também e a meu ver um ponto muito importante, incutir nos peregrinos de Santiago (nacionais e internacionais) a possibilidade da passagem ou até a partida de Fátima e o cruzamento de ambos os peregrinos ao longo do caminho. Por experiencia propria ao longo destes anos, sempre que nos cruzamos com alguém, perguntam para onde vamos ou os que conhecem se vamos para Fátima, normalmente acabamos a conversar sobre o santuário e as peregrinações. Destes certamente muitos foram pesquisar e ficaram curiosos como nós ficamos a primeira vez que nos falaram em Santiago.
A oferta de albergues para encurtar etapas é também essencial, embora tenham vindo a crescer principalmente os particulares (não muito interessantes para o bolso dos Portugueses). Os municipios estão finalmente a reconhecer algum interesse neste turismo, por exemplo abriu em Cucujães este ano um novo que colmata uma falta de oferta em São João da Madeira (onde apenas a santa casa permitia de forma condicionada a pernoita nas suas instalações), mas mesmo assim ainda há muitas etapas longas.
Outra coisa que também existe pouco é documentação cativante, enquanto Santiago pela vertente histórica tenha artigos, livros, historias, etc. Fátima remonta a 1917 e quer queiramos ou não a peregrinação é uma tradição muito nossa, que tem vindo a expandir pelas vindas dos papas cá, a leitura a nivel de livros e artigos também não é tão cativante para a maioria do publico.

No meu ver há um grande trabalho a fazer, mas em dois sentidos diferentes!
Podendo vir a confluir com a mudança dos peregrinos ao longos dos anos, mas o mais provavel é conviverem com trajetos e "publicos" diferentes.

Desculpem o alongar do texto, espero ter contribuido com alguma coisa para essa ardua tarefa ;)

Cumprimentos e bons quilometros,
Filipe.
 

maar3amt

Administrator
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Um tema interessante que me fez registar no vosso site, parabéns ... Embora já vos siga à muito pelas redes sociais ;)

Desde +/- 2010 que faço apoio de carro a um peregrino (sogro) que vai à cerca de 20 anos a Fátima a pé todos os anos, inicialmente em grupo e posteriormente passou a fazer-lo sozinho. Fez-lo sempre pela estrada nacional e na altura do 13 de Maio, o que me intrigava pela negativa, tanto pelos vários perigos inerentes à via escolhida, como ao sacrificio generalizado que fui assistindo nos vários grupos organizados com que me ia cruzando no caminho ao longo desses anos. O que contribuiu para nunca ter interesse em fazer este caminho a pé.

Em 2017 fizemos o nosso primeiro caminho para Santiago (V. N. de Famalicão - Rates - ... - Santiago), nesse ano surge a primeira curiosidade sobre o caminho de Fátima e o seu paralelismo com o caminho de Santigo. Dei por mim a questionar o mesmo que o maar3amt.
Pesquisas e mais pesquisas, acabei por encontrar um grupo de facebook que ainda encontram online, mas já sem atividade desde 2021, "Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima" e através do trabalho deles de mapeamento e marcação no terreno o primeiro mapa fora da estrada nacional. Infelizmente o grupo caiu tanto quanto sei devido a interesses economicos do Turismo de Portugal, que decidiu investir nos Caminhos de Fatima e riscar em cima de trabalhos já feitos, remarcando um novo caminho que se desvia em alguns momentos do trilho inicial por interesses turisticos e economicos (o tipico). Mas são outras histórias que não interessam para aqui.

O que interessa é que em 2018 arrancamos pela primeira vez a pé para Fátima com esse mapa que trilhava o inverso do caminho de Santiago (chamaram-nos malucos por fazer mais uma batelada de kms comparado com a estrada nacional). Saimos com um GPS do carro que eu tinha martelado para colocar trilhos em caso de nos perdermos, à procura de setas azuis ou na falta delas olhavamos para trás em busca das setas amarelas e alguns possiveis sitios de pernoita.
Saindo de VNFamalicão, o primeiro albergue só no porto, mais de 40kms no primeiro dia, foi o primeiro entrave e não iamos preparados para subir tanto monte na Trofa, chegamos tarde e exaustos. Segundo dia até São João da Madeira, sabiamos que podiamos ficar no lar da Santa Casa e como não apareceu mais nada pelo caminho foi lá que ficamos. Terceiro dia iamos dormir a um albergue na Mealhada, mas rebentamos em Agueda. Defenitivamente por causa das pernoitas as etapas ficaram muito longas e foi o nosso principal erro.
Em 2019 depois de mais um ano a estudar, voltamos a Agueda e já com etapas mais ponderadas retomamos o mesmo caminho, ainda assim, em Coimbra, Ansião e especialmente Caxarias foi complicado encontrar local para pernoitar. Percebemos no entanto que de Coimbra para baixo, nos começavamos a cruzar com peregrinos de Santiago que tinham iniciado em Lisboa e faziam paragem em Fátima, todos metiam conversa connosco para saber se iamos para Fatima e faziam questão de dizer que vinham de lá. Estranhamente em Caxarias onde segundo indicações os bombeiros recebiam peregrinos, foi nos negado apoio e acabamos no centro da vila à procura de dormida, tendo ido parar à Pensão Manalvo, uma casa que na altura parecida saida de um filme da decada de 70 ou 80 e que rapidamente percebemos que estava cheia de peregrinos franceses, porque num dos seus guias fazia estranhamente referencia aquele sitio. Dia seguinte chegamos a Fátima, fiquei convencido que aquele sim era o caminho certo.

2020 e 2021 voltei a fazer apoio em estrada, sempre a tentar convencer o meu sogro a sair da estrada nacional, todos os anos apanhavamos um susto diferente, por sorte nunca tivemos nenhum azar.
Em 2022 finalmente aceita o meu desafio (em parte pelos stresses do covid), embora reticente por serem mais kms e com a condição de eu o acompanhar a pé. Teria de ser no maximo 6 dias (ele costuma fazer pela estrada uma media de 4/5 dias e não queria fazer muito mais que isso)... Amarrei o maps e o google e rapidamente fiquei desiludido com a queda dos Amigos do Caminho que em muito me orientaram da primeira vez. Felizmente ainda tinha o mapa deles e encontrei depois um ultimo que fizeram a sobreporem ao do turismo de portugal, onde alertavam para zonas onde se saía do caminho de santiago sem motivo. Marquei os sitios onde tinha dormido em 2018/19 e procurei novos sitios de forma a conseguir etapas de cerca de 30kms, para surpresa minha encontrei sitios de acolhimento paroquial e os albergues aumentaram (ou a publicidade online com o crescimento das plataformas de divulgação) e consegui assim planear etapas mais comedidas.
Arrancamos para chegar lá no 12 de Maio de 2022, até ao Porto indo pelo caminho de santiago via Trofa foi um sossego, chegamos com marcação no albuergue e o sossego de 2018 (temos o primeiro contato com as credenciais para Fatima, mas nao adquirimos nesse ano porque eu levava a minha da ida em 2017 a Santiago para carimbar o caminho de Fatima). Saindo do Porto começamos a encontrar grupos organizados sempre que cruzavamos a estrada nacional e começaram os stresses, quanto mais desciamos mais impossivel de arranjar alojamento era e nem marcações valia apena tentar fazer, a resposta era sempre a mesma "está tudo cheio".
Os grupos da estrada nacional recorriam a tudo o que é alojamento (aliás é já fonte de rendimento de algumas associações nessa altura dar acolhimento a grupos), com marcações antecipadas, foi um problema que nos obrigou algumas vezes a fazer kms extra até zonas de apoio na estrada nacional para dormir nos mesmos sitios que eles e no dia seguinte voltar para trás para retomar o caminho.
Jurei não voltar a fazer o caminho para chegar nos dias 12/13 de Maio. Passei o caminho à procura de alojamentos, residenciais, albergues (publicos e privados) o que me permitiu aumentar o arquivo que ja tinha. No entanto por supresa minha, o meu sogro depois de anos e anos pela estrada nacional e bastante reticente em mudar o caminho, termina a dizer que depois da experiencia não sabe se volta à estrada nacional.

2023 e já com algum conhecimento de causa, um trilho definido, locais de pernoita praticamente decididos, desafio mais 3 pessoas que aceitam e arrancamos duas semanas depois do 13 de maio. Um grupo de 5 pessoas, 4 credenciais compradas online facilmente e outra no albergue do porto, 7 dias e finalmente conseguimos que o ambiente fosse semelhante ao que nos apaixonou no caminho de Santiago em 2017. Correu muito bem, curiosamente a cada ano que passa cruzamos com mais gente que vai para Santiago passando em Fátima e nos locais de pernoita a informação é que cada vez mais gente tem ido para Fátima também nestes caminhos (o que nem sempre se reflete em boas historias).

2024 novamente apenas com o meu sogro, decidimos arrancar quando toda a gente estava a chegar... Arrancamos no dia 11 de Maio, desta vez reduzimos novaente para 6 dias, aumentando a quilometragem diaria nas etapas mais urbanas e monotonas. Literalmente até Águeda, sendo que daqui para a frente, em especial a partir de Coimbra o caminho tem um maior interesse, além de saber sempre bem reduzir a quilometragem dia após dia. Demonstrou-se uma boa escolha, conhecemos novos albergues e novas pessoas, apanhamos mais peregrinos estrangeiros de Santiago a vir das celebrações do13 de Maio e obviamente isso causava curiosidade neles sobre o motivo de irmos fora das "festividades" o que proporcionou também mais conversas. As pernoitas com a passagem dos anos vai ficando mais facilitada, porque já começamos a conhecer os donos dos albergues, o que facilita às vezes até um agendamento informal.
Regressamos a casa tão motivados que umas semanas depois o mesmo grupo arrancou para Santiago, nos pela segunda vez e os restantes pela primeira :)

Este ano vamos experimentar as celebrações do 13 de Outubro (celebração da ultima aparição), a ver se os albergues não estão tão completos e para tentar fugir ao calor tipico de Maio e mudar um pouco a paisagem para cores de outono, vamos ver o que o caminho nos reserva.

Isto tudo para explicar no meu ponto de vista a razão principal para ambos os caminhos não seguirem para já a mesma tendência e dúvido que venham a seguir tão cedo.
- O motivo de um peregrino de Santiago é o caminho, a experiencia, a reflexão, a procura por algo dentro de nós, ou simplesmente a desconexção da vida que levamos. A entrada na cidade na maioria das vezes é por muitos descrita como uma "desilusão", opinião que partilho. O mesmo se percebe depois, quando se quer repetir o caminho ou fazer outros diferentes.
- O motivo de um peregrino de Fátima é a chegada ao santuário (muitas vezes o mais rapidamente possivel, porque só conseguiram uns dias de férias), o cumprir de uma promessa, o sacrificio doloroso para "pagar" um pedido de ajuda impossivel. Quase sempre só fazem uma peregrinação e não querem repetir por ter sido uma experiencia dolorosa, por isso procuram quase sempre um grupo para facilitar essa travessia, que lhe forneça dormida, cuidados e alimentação, porque não saber o que esperar e depois não quer voltar a repetir a não ser por necessidade. Quando é um peregrino "repetente" (promessas de anos ou apenas motivo religioso) tem tendencia a desvincular-se dos grupos, por causa do custo, das etapas grandes, dos objectivos horarios para ter as refeições/dormida, dr ter de andar ao ritmo das outras pessoas e principalmente porque quando falamos em grupos de 50/100/200 pessoas muitas vezes o ambiente durante o caminho é tudo menos religioso.

No ano passado sumei ainda alguns relatos menos felizes de pequenos grupos deste tipo de "peregrinos de estrada", que passaram na semana antes de nós para chegarem no 13 e que por algum motivo (publicidade na tv) decidiram fazer o caminho fora da estrada nacional. Tendo deixado por onde passaram uma marca negativa em albergues/paroquias que dão pernoita, assim como, em sitios de refeições.

Por estas experiencias penso que o fortalecimento do caminho interior para Fátima, seja ele qual for (santiago invertido, carmelitas, etc), terá sempre de se focar num publico especifico e não no mesmo das peregrinações anuais. A quantidade de pessoas, assim como, a mentalidade das mesmas, sobreposto a um caminho mais natural como o de Santiago, resultará numa sobrecarga que no meu ponto de vista será negativo pela destruição, poluição, confusão e caus que causará.
No entanto concordo sim com uma descentralização da estrada nacional 1 e criação de uma opção por estradas paralelas onde possam caminhar mais seguramente e ter os apoios que têm atualmente de instituições e veiculos. Conseguindo se calhar até uma melhor resposta e menos congestionamento de vias principais. Podendo depois sim neste caso existir uma canalização para vilas e cidades que pode ser associado a algum turismo religioso.

Quanto ao caminho interior e à sua aproximação à tendência dos caminhos de Santiago, terá de ser um publico semelhante ao dos Caminhos de Santiago, pela mentalidades, assim como, pela quantidade e distribuição de peregrinos por várias epocas do ano sem se focar apenas em Maio. Faz todo o sentido as credenciais para controlo de prenoitas, mas também para uma aquisição do comprovativo de conclusão do caminho que não existe ainda aquando da chegada a Fátima.
A existencia de um caminho principal (caminho de Santiago) onde confluem vários outros que vêm de cidades diferentes é também interessante, podendo depois a partir de Coimbra seguir ou alterar para variaveis diferentes como o caso das Carmelitas ou um outro que me falaram à uns tempos e entra pelo castelo de Ourém por exemplo.
Fará sentido também e a meu ver um ponto muito importante, incutir nos peregrinos de Santiago (nacionais e internacionais) a possibilidade da passagem ou até a partida de Fátima e o cruzamento de ambos os peregrinos ao longo do caminho. Por experiencia propria ao longo destes anos, sempre que nos cruzamos com alguém, perguntam para onde vamos ou os que conhecem se vamos para Fátima, normalmente acabamos a conversar sobre o santuário e as peregrinações. Destes certamente muitos foram pesquisar e ficaram curiosos como nós ficamos a primeira vez que nos falaram em Santiago.
A oferta de albergues para encurtar etapas é também essencial, embora tenham vindo a crescer principalmente os particulares (não muito interessantes para o bolso dos Portugueses). Os municipios estão finalmente a reconhecer algum interesse neste turismo, por exemplo abriu em Cucujães este ano um novo que colmata uma falta de oferta em São João da Madeira (onde apenas a santa casa permitia de forma condicionada a pernoita nas suas instalações), mas mesmo assim ainda há muitas etapas longas.
Outra coisa que também existe pouco é documentação cativante, enquanto Santiago pela vertente histórica tenha artigos, livros, historias, etc. Fátima remonta a 1917 e quer queiramos ou não a peregrinação é uma tradição muito nossa, que tem vindo a expandir pelas vindas dos papas cá, a leitura a nivel de livros e artigos também não é tão cativante para a maioria do publico.

No meu ver há um grande trabalho a fazer, mas em dois sentidos diferentes!
Podendo vir a confluir com a mudança dos peregrinos ao longos dos anos, mas o mais provavel é conviverem com trajetos e "publicos" diferentes.

Desculpem o alongar do texto, espero ter contribuido com alguma coisa para essa ardua tarefa ;)

Cumprimentos e bons quilometros,
Filipe.

Muito obrigado pelo teu excelente testemunho e contributo para esta reflexão.

É evidente que devemos reconhecer dois segmentos distintos de público: por um lado, os peregrinos que se dirigem a Fátima com o objetivo de cumprir promessas — geralmente movidos por motivações profundamente pessoais e religiosas — e, por outro, o segmento que aqui estamos a debater: pessoas que gostam de caminhar, que procuram uma experiência mais abrangente, onde o contacto com a natureza, o património e os outros peregrinos tem um papel central. Este público não caminha apenas por fé, mas por tudo o que o caminho representa em termos espirituais, culturais e humanos.

No caso dos peregrinos das promessas, infelizmente, não vejo grandes margens para alteração, pois, como referiu e bem, muitos submetem-se a autênticos sacrifícios, frequentemente com falta de preparação física e logística, encarando o percurso como penitência. E, de facto, essa é uma dimensão respeitável, mas muito específica.

Contudo, o foco deste debate está precisamente na outra vertente — a dos que caminham sem pressa, que valorizam a interação, a partilha de experiências, e que encontram, em cada passo, um espaço de reconexão interior. Este é o mesmo espírito que atrai tantos ao Caminho de Santiago: o entendimento de que um caminho espiritual pode ser feito em qualquer direção — seja para Santiago, Fátima ou até mesmo sem destino fixo. A conexão acontece com o próprio caminho.

A grande questão é que, para este segmento, muito pouco tem sido feito no âmbito dos Caminhos de Fátima. Continuar a promover apenas percursos baseados na fé, sem considerar os valores naturais, culturais e de hospitalidade que hoje fazem do Caminho de Santiago um sucesso internacional, é desperdiçar uma enorme oportunidade.

Na minha modesta opinião, a solução não passa só por aproveitar sistematicamente os próprios Caminhos de Santiago, pois aí o desfecho já é previsível — os peregrinos, sobretudo os estrangeiros, optarão quase sempre por Santiago. Em vez disso, deveriam ser considerados projetos estratégicos integrados no contexto dos Caminhos de Fátima, com ligações internacionais bem pensadas.

Reforço a ideia de criar protocolos com os Caminhos de Santiago, nomeadamente uma ligação estruturada entre Bragança e Astorga, que permitisse uma conexão direta com o Caminho Francês, uma das principais artérias da peregrinação europeia. Essa interligação permitiria captar peregrinos que já estão em Espanha e criar um novo fluxo de interesse, valorizando simultaneamente os pontos de interesse em território português.

Estou convicto de que existe aqui um enorme potencial por explorar, e que com visão estratégica e cooperação entre entidades, será possível posicionar os Caminhos de Fátima como uma referência internacional, sem perder a sua identidade única.
 

Filipe Silva

New member
Potencial existe sem dúvida alguma, até pelas localidades onde passa e os seus atrativos patrimoniais ao longo do caminho.
E na maioria das vezes é puro desconhecimento, porque sempre que falo com alguem e digo que é possivel ir a Fátima através dos caminhos de Santiago, as pessoas ficam curiosas e as conversas alongam-se.

Penso é que pela falta da componente historica que o caminho de Santiago tem, o caminhos para Fátima teriam de ser impulados inicialmente com uma divulgação turistica e ao mesmo tempo menos sazonal/religioso para se tentar descolar apenas dos dias 13.

Associar ancoras ao longo do caminho que estejam abertas todo o ano, seja para pernoita/refeições/carimbos/religiosas ou mesmo os postos de turismo de cada terra ter um carimbo proprio para esta situação. E que tenham uma politica de marketing constante sobre o caminho e a promoção dos peregrinos que por elas passem (há albergues para santiago que o fazem, fotos de grupo, de jantares em conjunto, etc). Fazendo divulgação nas redes para chegar em piramide aos contactos de quem está a fazer ou já fez o caminho.

A criação de merchandising do caminho além da credencial também será importante para divulgar, atualmente os caminhos têm o simbolo comercial da oliveira, mas em tempos era uma caracoleta engraçada que ainda se vê em azul em alguns pontos do caminho. Poderiam ambos passar para as fitas de pulso, emblemas de mochilas e todas as outras coisas que estamos habituados a ver em Santiago.

Em Fátima o caminho poderia ligar-se a pequenos trilhos existentes, PRs de interesse ou caminhos até zonas relacionadas ao tema religoso, quase num paralelo com a etapa de Santiago para Finisterra.

Depois como disse e bem será uma questão de protocolos para divulgação nos pontos turisticos onde se promove o caminho de Santiago, promover a passagem em Fátima, o caminho em sentido inverso vindo de Santiago ou mesmo idas e voltas (ja cruzei com alguns peregrinos estrangeiros a voltar a pé ao Porto para apanhar voos de regresso a casa).

A componente de alargar o caminho ao cicloturismo e BTT também pode ser uma hipotese de expansão, até porque o caminho para baixo é menos sinuoso que para Santiado. Além disso existem alguns ciclistas que já o fazem pela estrada, se for feita promoção destes caminhos mais offroad é capaz de capatar esse publico que também ajuda em muito a divulgar.

Provavelmente dois exemplos portugueses "frescos" de trajetos que cresceram exponencialmente a nivel turistico e que podiam ser tomados como exemplo a nivel de marketing mais "agressivo" são a N2 (já bastante internacionalizada até) e a Rota Norte 777 que está agora em franco crescimento. Ambos mais ligados ao turismo em estada, mas que já captam muita gente no cicloturismo, alguns na caminhada e até corrida. Têm uma pratica de marketing bastante ativa quer seja a nivel dos seus "fundadores/representantes" como dos diversos pontos de paragem quase "religiosos".
 

patrícia silva

New member
Boa tarde,

Temos assistido a um crescimento exponencial da popularidade dos Caminhos Portugueses de Santiago. Na sua opinião, quais poderão ser as razões para que os Caminhos de Fátima ainda não acompanhem esta mesma tendência?

Agradecemos desde já comentários construtivos que possam contribuir para o desenvolvimento e valorização destes trajetos.

Boas caminhadas!
Bom Dia
na minha opinião o que falta aos caminhos de fatima e albergues e nao fazer os peregrinos andaram 30km ou 50km para arranjarem um local para dormir pois nem todos conseguem fazer tantos km num dia .
Por exemplo ando a planear ir fazer dois caminhos e estou a ter dificuldade em encontrar sitio para dormir e que nao caminha-se tantos kms num dia .
na chegada a fatima poderia haver um sito onde pudéssemos obter um certificado em como fizemos o caminho .
 

maar3amt

Administrator
Staff member
Bom Dia
na minha opinião o que falta aos caminhos de fatima e albergues e nao fazer os peregrinos andaram 30km ou 50km para arranjarem um local para dormir pois nem todos conseguem fazer tantos km num dia .
Por exemplo ando a planear ir fazer dois caminhos e estou a ter dificuldade em encontrar sitio para dormir e que nao caminha-se tantos kms num dia .
na chegada a fatima poderia haver um sito onde pudéssemos obter um certificado em como fizemos o caminho .
Duas pontos importantes.
Obrigado pelo seu contributo.

Boas caminhadas
 
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