O PR8 - Trilho de Vilarelho da Raia é uma Pequena Rota circular com cerca de 17,4 km, tendo início e fim no Centro Social e Cultural de Vilarelho da Raia. O percurso liga as aldeias de Vilarelho da Raia, Vilela Seca e Cambedo, podendo ser encurtado através de uma variante de 5 km, que passa pela Fonte das Águas Mineromedicinais da Fachada, junto à Ribeira de Cambedo, permitindo assim dois percursos alternativos de aproximadamente 13 km.
Este trilho convida à descoberta de um território raiano rico em história, tradições e paisagens únicas, onde o silêncio das serras guarda memórias de tempos antigos. À medida que se caminha por entre campos, carvalhais e caminhos rurais, sente-se a alma de um povo habituado a viver entre fronteiras, com os olhos postos nas serranias da Galiza e o coração enraizado na terra transmontana.
Entre Cambedo e Vilarelho da Raia, o trilho acompanha a linha da antiga fronteira seca, coincidindo com os velhos trilhos do contrabando, outrora pisados por homens e mulheres que arriscavam tudo para garantir o sustento das suas famílias. Estes caminhos seguem, em parte, o traçado da linha de demarcação da raia seca, extinta com o Tratado de Limites de 1864, que pôs fim aos chamados Povos Promíscuos - comunidades que viviam entre dois países, partilhando terras, famílias e tradições.
O percurso é também um testemunho vivo da resistência raiana. A freguesia de Vilarelho da Raia foi, ao longo da história, ponto estratégico de entrada de exércitos, palco de escarmuças militares e de passagens clandestinas. Destaca-se ainda o papel da aldeia de Cambedo, que durante as décadas de 1930 e 1940 acolheu e protegeu refugiados da Guerra Civil de Espanha e guerrilheiros antifranquistas, gesto que custou caro à população: em dezembro de 1946, várias famílias foram perseguidas e detidas, marcando para sempre a memória coletiva da aldeia e transformando-a num símbolo de solidariedade sem fronteiras.
Ao longo do percurso, embora fora do traçado direto, há vestígios de ocupações antigas, como o povoado fortificado de Wamba (Idade do Ferro), o castro da Alvorinha (Idade do Bronze), as estações arqueológicas de Quintela e do Vale da Ermida (época romana), ou o Castelo medieval, destruído antes de 1434. São testemunhos de um território continuamente habitado, atravessado e disputado.
Um dos pontos de destaque é a passagem junto à Fonte da Fachada, com as suas águas mineromedicinais reconhecidas desde tempos remotos. Diz-se que a fonte terá sido utilizada desde o período romano pelas suas propriedades curativas, sendo mais tarde ponto de encontro de locais e viajantes que procuravam alívio para males do corpo e da alma. Mais do que uma nascente, a fonte simbolizava também um ponto de apoio estratégico para os contrabandistas, que ali descansavam, reabasteciam-se e trocavam informações durante as longas e perigosas travessias noturnas da raia.
Este é, portanto, um trilho que vai muito além da caminhada: é uma viagem no tempo e na alma de um povo que, entre muros de granito e horizontes abertos, soube sempre resistir com coragem e engenho. Ideal para quem procura natureza, história e a verdadeira essência da fronteira lusa.